terça-feira, 19 de junho de 2007


Prazos apertados fazem estilistas desistirem de desfiles
Nina Lemos -Colunista da Folha

"Estou de luto, arrasada." Assim a estilista Patrícia Vieira, que desfilou três vezes no Fashion Rio e outras três no São Paulo Fashion Week, define seu estado de espírito por não ter participado do SPFW nessa temporada. O motivo da ausência, segundo ela, é o mesmo apontado por outros estilistas ouvidos pela Folha: o prazo apertado entre os desfiles (as apresentações de verão acontecem em junho e os de outono inverno entre janeiro e fevereiro) e a época em que as roupas precisam chegar às lojas, cerca de dois meses após os shows.A "pressa" com que as lojas lançam as novas coleções de verão é apontada como motivo por outra ausência na semana de moda, a do estilista carioca Carlos Tufvesson. "Entreguei a coleção de outono-inverno no dia 30 de maio. Como teria condições de preparar um desfile para a SPFW, que começou 12 de junho?", pergunta. "É surreal que as coleções de verão sejam lançadas em junho, principalmente porque os compradores acham que a roupa precisa começar a ser vendida um mês depois."Clô Orozco, estilista da Huis Clô, acha que o ideal seria que as coleções só chegassem às lojas três meses depois após os shows. "É assim no mundo todo, precisamos de um tempo para nos organizar." O estilista Reinaldo Lourenço, que se apresentou ontem, comemorava após o desfile o fato de, depois de dois meses, poder relaxar. "Estou trancado no ateliê. Meu trabalho é artesanal e o prazo, muito apertado."A solução para o "aperto", para Tufvesson, seria um adiamento dos shows. "A gente poderia lançar o inverno em fevereiro e o verão em setembro, para ter mais tempo para produzir as entregas." A mesma opinião é compartilhada por Patrícia Vieira. "Eu desfilava em junho e tinha que entregar em julho para exportação."Clô, que também sofre com os prazos, pensa em outra solução. "O ideal seria que a coleção de verão fosse apresentada em abril e fosse às lojas em agosto."De acordo com Graça Cabral, diretora do SPFW, todo o mercado de moda precisa passar por uma "adequação". De acordo com ela, a data não pode ser retardada nem adiantada porque as lojas e os consumidores "querem sempre novidade". "Somos um mercado novo. E temos muito para conversar e até pensar em treinar o consumidor", acredita.

quarta-feira, 13 de junho de 2007


Elegância do comportamento
Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotografo por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais. Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao de outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras”.

terça-feira, 5 de junho de 2007


MODA VELOZ
A Moda é veloz ou nós é que somos apressados? Bem, se a moda é considerada um fenômeno determinado pela sociedade, quem então dita o seu ritmo somos nós, portanto, somos nós os apressados! A pressa chegou a tal ponto que a nosso ver o computador processa os dados de maneira lenta e a impressora imprime a “passos de tartaruga”. Imagine a moda, então? Essa reflete toda a nossa ânsia e pressa por novidade, por algo que nos encha os olhos e faça com que desejemos adquirir algo, seja para estar mais bonito, mais diferente, mais à frente do nosso tempo, mais, mais, mais, mais, mais...
Por conta de toda essa pressa, a moda que tem por característica mais latente a efemeridade, se tornou uma mercadoria que beira o descartável, chegando a ter menos de uma estação de vida útil nos guarda-roupas dos “descolados”. É difícil hoje, encontrar alguma pessoa que não compra pelo menos uma peça de roupa por mês, e, para atender a esse público voraz e ávido por novidade, as marcas e lojas têm que se renovar não mais duas vezes por ano, como antigamente, mas até oito vezes neste período, para não ficar a margem do mercado. Haja inspiração e criatividade!
Esse fenômeno vem fazendo com que as mudanças ocorridas de uma coleção para a outra sejam percebidas apenas nos detalhes, ou seja, são quase imperceptíveis, pois é claro, esta pressão interfere na produção criativa dos estilistas e até no próprio sistema de moda, que tem sido atropelado por essa moda tão veloz, que não permite a ele cumprir todas as etapas de maneira ordenada.
Aqueles que desejam realmente se diferenciar não têm encontrado nas vitrinas algo que supra essa necessidade e assim têm procurado construir a sua própria moda, aceitando até se submeter a um processo um pouco esquecido e considerado lento para os nossos dias, que é a roupa feita sob medida por costureiras. Processo que pode até ser lento, mas que nos dá a liberdade de usar aquilo que ninguém tem e de mudar verdadeiramente o visual e não apenas uma cor ou um babado a mais em uma blusa, possibilitando, inclusive, a oportunidade de transformar completamente peças esquecidas no fundo do guarda-roupa através de técnicas de customização. Muitos, também recorrem à moda Vintage, comprando peças em brechós, que podem ser consideradas hoje “exclusivas”. Mas é através da liberdade de composição dos próprios looks que mais tem tornado possível ao homem moderno a chance de ser original, único!
É, parece que ser veloz, nem sempre pode considerado uma qualidade ou uma vantagem da nossa contemporaneidade. Nós, assim como o sistema de moda, temos esse desafio pela frente, o de vencermos a pressa em prol da novidade com criatividade.

Carmem Marinho é formada em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pernambuco, pós-graduada em Cultura de Moda pela Universidade Anhembi Morumbi e atualmente leciona na Faculdade de Boa Viagem, na Faculdade Senac Pernambuco e no Centro de Moda e Beleza do Senac Pernambuco. Também trabalha como Consultora de Imagem e com produção de desfiles de moda.